A bela assustada é fruto de livros anteriores, acrescido de alguns trabalhos inéditos. Imagino que a escrita (seja linear como a minha, seja complexa como a dos grandes criadores) não resiste ao olhar crítico do autor: a frase pulsa, vibra, grita em seus desajustes, pede socorro. Assim, atendi a esse apelo e, por direito de propriedade, reformulei alguns textos. As emendas foram cometidas em atenção às pessoas que, por ventura, conheçam esses registros. Emendar, neste caso, é agradecer: quem encontra um leitor encontra um tesouro. O Brasil das políticas públicas costuma seguir uma estranha versão da lei de Lavoisier: de positivo, aqui, nada se cria, nada se forma, podendo-se dizer o mesmo do ridículo humano: quase temos garantido que, neste campo, a estupidez, além de presente fulgurante, tem futuro promissor. Por isso, alguns trabalhos publicados há quase duas décadas me parecem ainda válidos, ao menos no meu julgamento, talvez um tanto generoso. As fontes são Buerarema falando para o mundo (Letra Impressa/1999), Solo de trombone – ditos & feitos de Alberto Hoisel (Editus/2001), Luz sobre a memória (Agora/2001 – Mondrongo/2013), Estória de facão e chuva (Editus 2005/2013), Com o mar entre os dedos (Editus/2015) e A vida refletida (no prelo da Editus). Pensei ser indispensável incluir memórias de Buerarema – pois estas, no meu tempo pessoal, são eternas, aonde eu vou, elas me seguem. Por isso, quem (re) ler estes escritos, aqui vai (re) encontrar Manuel Vitorino, Zé Mijão, Mundinho Cangalha, João Baié, Léo Briglia, Dr. Elias, o padre Granja, o pastor Freitas, Manuel Lins, Clarindo Corno Preto, Zeca de Agripino, Vilson Cordier e vários outros heróis da minha infância. Dividi os textos maiores em dois, para facilitar a leitura, em tempos de difícil paciência, excesso de pressa e falta de perfeição. Também brinquei de fazer remessas várias páginas à frente ou, em contrário, recuos consideráveis. É referência/deferência a O jogo da amarelinha, espécie de “síndrome de Julio Cortázar”, fantasma que, docemente, me persegue, não só a mim, mas a tantos de minha geração e gosto. Mas a homenagem, a rigor, não é nova – usada por vários autores, sendo o mais próximo Esdras do Nascimento (1934-2015), no romance A rainha do calçadão (Global/2011). Para completar a travessura cortazariana, numa molecagem extra, o livro não termina: da última narrativa, a gentil leitora e o amável leitor são remetidos à primeira. Os desavisados correm o risco de aprisionamento nesse labirinto, aí permanecendo por séculos sem fim, amém, para honra e glória do autor… (A.L.)
Avaliações
Não há avaliações ainda.